Na semana passada, quando eu folheava a Veja São Paulo, chamou-me atenção uma citação do fotógrafo Bob Wolfenson, em “Três perguntas para Bob Wolfenson”, na editoria “Exposições” (http://vejasp.abril.com.br/materia/tres-perguntas-para-bob-wolfenson). Foi impossível ficar passivo a esta magnífica resposta dele: “O projeto foi todo feito com uma câmera digital. Você aderiu de vez ao suporte? ‘Sou um “digitalista”, digamos assim. As inovações tecnológicas facilitaram demais o meu trabalho. A democratização franqueou a muitos ser fotógrafos, inclusive gente ruim. Mas da quantidade nasce a qualidade. E o olhar só pode ser desenvolvido a partir de muito treino’.”
Percebi que podemos comparar esta citação à nossa realidade com o Pilates, tendo uma visão semelhante. Quando começamos no Brasil, éramos poucos e tínhamos o conhecimento adquirido com trabalho e esforço. A prática era rigorosa e disciplinada, com treinamentos diários e regulares. Num primeiro momento, nem sequer tínhamos todos os aparelhos e acessórios para completar o System.
As descobertas de cada técnica, de cada possibilidade construtiva do corpo, da pedagogia sendo construída estava no olhar rigoroso, na rota estabelecida e certeira do Método. Nosso instrumento verdadeiro era e continua sendo nossos corpos. Os conteúdos escritos de hoje foram formados a partir da atividade das nossas células.
Hoje, com o Pilates conceituado como genérico, acessível a qualquer um, milhares têm mergulhado livremente na procura do saber, do entender, do atuar com o Método. Empresas de todo porte e prestígio se somaram a esta “digitalização”, do acesso fácil a um método misterioso para quem procura a sua essência e verdade. Mas aí Bob Wolfenson, que é praticante do Autêntico Pilates e conheceu e fotografou a nossa querida Master Teacher Romana Kryzanowska com a Inelia Garcia, nos presenteia com o seguinte pensamento, que está na entrevista citada no início deste artigo: “o olhar só pode ser desenvolvido a partir de muito treino”.
Há, hoje, milhares falando que são formados em Pilates. Mas só aqueles que treinam muito é que vão fazer a diferença; primeiro com os outros e, depois, entre nós. É com o depoimento deste fotógrafo que me lembro de algo que tem sempre de prevalecer nas nossas mentes: a cada minuto, só o treino pode desenvolver o nosso olhar; a nossa leitura; o nosso encontro com o conhecimento e compreensão do Autêntico Pilates.
Vejo, a cada supervisão, “muitos fotógrafos digitais”. Todos têm um celular ou uma máquina para clicar com rapidez e agilidade. Mas são poucos os que treinam com nossos instrumentos, para levá-los ao olhar ideal, à melhor imagem e qualidade. Deve haver poucos fotógrafos como Bob, suficientemente disciplinados e exigentes para ter essa fala.
Nós do Pilates, por exemplo, temos apenas uma: Inelia Garcia. E ela fala a todo instante, em todo momento, nos diferentes canais de comunicação (escrita, na prática, nas mídias, nos encontros, nos vínculos profissionais, nos treinos) que é o treino o verdadeiro caminho para o progresso com qualidade.
Estamos num momento, talvez, semelhante àquele das “brigas” pelos direitos legais da marca. Temos a escolha de ir em frente respeitando o Autêntico Pilates ou escolher um caminho fácil. Nós preferimos obter o prestígio pela qualidade.
Antes, éramos poucos! Trabalhávamos muito. Treinávamos mesmo sem tempo, porque nada sabíamos. E, agora que parece que tudo sabemos (embora é só uma ilusão), que temos uma posição ganhada com muito esforço, parece que estamos “desprezando” a ferramenta básica do progresso e a qualidade: o treino.
Sou testemunha de cada promoção de professores, das mudanças, das transformações, dos novos corpos, que é o ponto de partida dos Instrutores. Com eles, vejo a força e a certeza de uma carreira vitoriosa, de um desenvolvimento profissional para melhor servir os nossos clientes.
A magia do treino tem de existir, assim como a sua rotina para manter um corpo “saudável”, esteticamente dentro do padrão do que se espera de um professor de Pilates. Mas quem treina hoje para procurar saber mais? Quem treina para resolver as incógnitas de um cliente difícil? Quem treina porque tem a lembrança de quem já teve um corpo mudado com o Pilates? Quem treina porque acredita que o Método só é possível com treino!!
Se Inelia Garcia sabe e acredita que esse é o nosso caminho de origem, de permanência e do futuro, o que falta para que cada um de nós entre de novo nesta verdade com o mesmo calor, a mesma vontade que já teve e sentiu? Fica aqui a minha pergunta aos instrutores de Pilates para que possam refletir.
Artigo escrito por :
Alfonso Fernando Carrillo, Autêntico Instrutor do The Pilates Studio® Brasil